de Tomás de Celano
Em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.
Ao ministro geral da Ordem dos Frades Menores.
Começa o prólogo.
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1 Reverendíssimo Padre, aprouve à santa universalidade do passado capítulo geral e a vós, não sem disposição da vontade divina, confiar à nossa pequenez escrever os atos e até os ditos de nosso Pai Francisco, para consolação dos presentes e memória dos futuros. Tivemos o privilégio, mais que outros, de um conhecimento direto, por convivência assídua e mútua familiaridade com ele.
2 Apressamo-nos por isso a obedecer com devoção a esse santo mandato, pois dele não poderíamos furtar-nos, de maneira alguma.
3 Mas, pensando melhor na propensão que nossas forças têm para a fraqueza, temos justificado receio de que tão importante assunto, deixando de ser tratado como deve, desagrade aos outros por nossa culpa.
4 Pois tememos que essas coisas, que são merecedoras do sabor de toda suavidade se tornem insípidas pela incapacidade de quem o prepara e possam dizer que o fizemos mais por presunção que por obediência.
5 Se o resultado de todo este trabalho devesse ser apresentado somente à vossa benevolência, bem-aventurado pai, e não ao público, receberíamos com prazer tanto as correções como uma agradável aprovação.
6 Quem conseguirá, nessa profusão de atos e palavras, ponderar todas as coisas com o cuidado suficiente para que todos os ouvintes aceitem com um só pensamento tudo que for dito?
7 Entretanto, como somos simples, buscando apenas o proveito de todos e de cada um, pedimos aos leitores que nos julguem com bondade e perdoem ou corrijam essa simplicidade do narrador, de maneira que saia ilesa a reverência devida àquele de quem estamos falando.
8 Nossa memória, prejudicada pelo tempo como a das pessoas incultas, tem dificuldade para dominar as alturas de suas palavras ou a extraordinária excelência de seus feitos, o que seria difícil mesmo para a acuidade de uma inteligência exercitada, mesmo diante dos fatos.
9 Por isso, desculpe-nos diante de todos pelas falhas da nossa imperícia a autoridade de quem insistentemente nos mandou fazer este trabalho.
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1 Este opúsculo contém, em primeiro lugar, alguns fatos admiráveis da conversão de São Francisco, não colocados nas Legendas anteriores porque não tinham chegado ao conhecimento do autor.
2 Além disso, quisemos apresentar e demonstrar esmeradamente qual foi o ideal generoso, amável e perfeito do santo pai para si e para os seus na execução dos ensinamentos divinos e no esforço de perfeição, que sempre manteve em seus afetos para com Deus e em seus exemplos para todos.
3 Apresentamos também alguns milagres, de acordo com a oportunidade.
4 Por isso, procuramos descrever o que foi possível em estilo simples e chão, querendo satisfazer, se possível, tanto os menos cultos como os mais doutos.
5 Então vos pedimos, pai cheio de bondade, que vos digneis consagrar com vossa bênção o dom, pequeno mas não desprezível, deste trabalho que não nos custou pouco. Corrigi os erros e cortai fora o que é supérfluo, para que aquilo que a vosso juízo parecer bem apresentado, de acordo com o vosso nome, Crescêncio, cresça por toda parte e se multiplique em Cristo. Amém.